Monday, June 22, 2009
Foi Assim, por Natalia Ginzburg
Cada escritor desenvolve um tipo de narrativa, mas como sou leitora compulsiva, posso dizer sem medo de errar quando uma prosa é "estritamente" feminina. Esse é o caso de Natalia Ginziburg, escritora italiana. Sua prosa é enxuta, rica em descrições precisas, cruéis, muitas vezes.
Adoro as frases iniciais:"Disse-lhe: - Diga-me a verdade - e ele disse: - Que verdade? - E desenhava rapidamente algo no seu livrinho de apontamentos e me mostrou o que era: um trem comprido com uma densa nuvem de fumaça preta e ele, que se debruçava na janela e acenava com o lenço.
Atirei em seus olhos."
Já sabemos o que vai ocorrer, não temos um mistério na trama. Este parágrafo contém toda a história: o "amor" dependente da personagem principal, o silêncio irônico do marido, o fim do casamento, o assassinato. No entanto, não conseguimos largar o livro até descobrirmos porque essa mulher, simples, ingênua, delicada e comovente assassina esse homem misterioso, indecifrável. Existe vida fora do relacionamento conjugal? Não para a personagem. Nossa anti-heroína sofre com a diferença entre o imaginado, o idealizado e a realidade. Ela esperava encontrar no casamento uma tranquilidade e felicidade imaginada, e por isso se dedica obssessivamente ao marido, e dispensa todos os outros aspectos da vida. A história trata da impossibilidade de se aceitar que a pessoa amada ame outro. A impossibilidade de aceitar o fim.
Recomendo, e melhor, pode ser lido durante uma tarde. Contém apenas 110 páginas.
GINZBURG, Natalia. Foi assim. São Paulo, Berlendis & Vertecchia Editores, 2001.
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Elis indica
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