Desde que passei a ter noção de minha própria existência, já sabia que era homo. Lá pelos seis anos de idade me apaixonei por uma amiga de minha mãe, mas guardei comigo. Aos doze anos havia uma prima inseparável e acabamos ficando meio que juntas, embora tudo aquilo pra mim fosse, de alguma forma, irreal...impossível também. Ela foi embora pra outra cidade, mas aos quatorze anos nos encontramos e ficamos mais uma vez. Entretanto era tudo muito inocente: beijos, nos esfregávamos sem roupa, mas não sabíamos ir além. Ela mais uma vez foi embora e eu, em momento algum, levei a sério nossa história. Não conseguia namorar rapazes e pela criação rigorosa que tive sabia que jamais teria coragem de viver aquilo de que eu realmente gostava. Aos dezessete anos me apaixonei de verdade (ela era nove anos mais velha e eu sentia que o sentimento era recíproco, mas ela tinha uma companheira e eu não tinha coragem_mal nos falamos) e aos dezoito, com medo de ver minha paixão descoberta, comecei a namorar um rapaz treze anos mais velho que eu. Casei com ele aos dezenove e foi um dos dias mais tristes de minha vida. Nessa época fazia faculdade de Letras e na minha sala de aula havia também a companheira da mulher que eu ainda amava, sendo que meu marido também estudava conosco. Era uma situação terrível, pois nos víamos sempre que ela ia buscar a outra na faculdade. No último ano, a sua companheira e eu ficamos no mesmo grupo do estágio. Éramos obrigadas a nos encontrar nas residências de cada uma para prepararmos as aulas e isso foi fatal. Quando ia na casa dela, já não conseguia guardar esse sentimento há cinco anos escondido. E não guardamos mais. Não nos seguramos mais. Nos encontramos de verdade, nos amamos...deixei meu marido e ela deixou sua companheira. Cidade pequena, escândalo enorme. Sou professora e comerciante e todos os olhos se voltaram para nós. Eu era a menina má que traiu a própria amiga de sala e um marido maravilhoso_aos olhos de todos. Ela era a mulher mais velha que havia me desencaminhado. Povo hipócrita!
Em casa, apesar de todo o rigor, sempre fui a filha e a irmã mais querida. No início me afastei de todos, mas com o tempo eles deixaram claro que minha condição sexual não era um divisor de águas em nossa relação familiar. Minha irmã mais nova, recentemente assumiu sua homossexualidade, mas pegou uma fase boa...eles já estavam acostumados comigo, não tiveram muito susto ao saber dela. Quanto ao meu grande amor, ficamos juntas cinco anos. Nos separamos em janeiro último. Sua ex companheira (minha ex amiga de faculdade) chegou na cidade e ela teve uma recaída. Não sei perdoar traição...ainda. Nos separamos e elas foram embora juntas. Desde a semana em que ela foi, me liga todos os dias, de manhã e de tarde, pedindo pra voltar. Está quase me vencendo no cansaço...hehe
Prometi pra mim que um homem não me tocaria novamente. Prefiro ser assumida a ter que fingir algo que não gosto e que não fui talhada pra fazer. Meu corpo, meu toque, meu amor, minha sensibilidade, nasceram para a apreciação de uma mulher. Apesar das adversidades, não me arrependo de nada. Trabalho muito e sou respeitada em minha cidade. Vivo minha vida e acredito no amor e nos seres humanos, mesmo que alguns venham a machucar...
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